FOLHAS ARTIFICIAIS

Entrevistas

Folhas artificiais

26/10/2010

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A melhor solução para os problemas globais de produção de energia já foi desenvolvida, é muito eficiente e vem sendo utilizada há mais de 2 bilhões de anos: a fotossíntese.

A afirmação foi feita por James Barber, professor do Imperial College London, Reino Unido, nesta segunda-feira (25/10), durante o BIOEN Workshop on Molecular Mechanisms of Photosynthesis, promovido pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo.

Considerado um dos principais pesquisadores no mundo no tema da fotossíntese, Barber é membro da Royal Society of Chemistry e publicou 15 livros e mais de 500 artigos científicos sobre o assunto.

“Imitar a natureza e desenvolver catalisadores capazes de mimetizar a fotossíntese – propiciando uma fonte de energia limpa e praticamente ilimitada – não é um sonho. É uma possibilidade real, contanto que seja feito um esforço internacional multidisciplinar que reúna os cientistas mais talentosos do planeta”, disse à Agência FAPESP.

Segundo ele, uma tecnologia capaz de usar a luz do Sol com eficiência semelhante à observada nas plantas seria a solução definitiva para a questão energética. “A quantidade de radiação solar que se precipita no planeta Terra é gigantesca”, disse.

“Uma hora de luz solar equivale à totalidade da energia que utilizamos em um ano em todo o mundo. É a maior quantidade de energia disponível. Não há nada que se aproxime disso. É também uma energia que incide sobre praticamente todo o globo. É, portanto, igualmente distribuída. Aprender a usar essa energia seria um salto sem precedentes na história da humanidade”, destacou.

A população da Terra consome a cada ano, segundo Barber, 14 terawatts de energia, sendo que a maior parte é proveniente de combustíveis fósseis como petróleo (4,5 terawatts), gás (2,7 terawatts) e carvão (2,9 terawatts).

“Como sabemos, isso é insustentável. Estamos queimando combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial e chegamos a emitir carbono em uma concentração de 360 partes por milhão (ppm). À medida que a população global aumenta de modo exponencial, essa emissão piora. Sabemos que se chegarmos a 550 ppm, haverá mudanças dramáticas no clima do planeta”, afirmou.

Desenvolver uma “folha artificial” seria, segundo ele, a melhor solução a longo prazo. A tecnologia para capturar a energia solar e transformá-la em eletricidade já é bem conhecida: a energia fotovoltaica. Mas, embora seja importante, a energia fotovoltaica não resolve o problema energético.

“A energia fotovoltaica é cara para competir com os baratos combustíveis fósseis. Em segundo lugar, não é suficiente apenas a produção de eletricidade. Precisamos de combustíveis para carros e aviões. O ideal é que tenhamos combustíveis líquidos de alta densidade, como é o caso do petróleo, do gás ou até mesmo dos biocombustíveis”, afirmou.

A folha artificial, segundo Barber, é uma tecnologia que absorveria energia solar, armazenando-a em bombas químicas e produzindo combustível. “Talvez produza metanol, ou metano. Mas o importante é que teremos um combustível de alta densidade, como o petróleo, que tem uma quantidade incrível de energia armazenada em um pequeno barril”, disse.

“É muito difícil armazenar grandes quantidades de energia em baterias. Ainda não temos a tecnologia para isso. Talvez um dia tenhamos, mas, no momento, acreditamos que armazenar energia em bombas químicas, como a fotossíntese faz, é o ideal”, apontou.

Com o armazenamento em bombas químicas, a energia solar poderia ser guardada, transportada e distribuída. “Esse armazenamento se daria de uma forma mais complexa que a da energia fotovoltaica. O armazenamento é o verdadeiro desafio que temos pela frente para chegar à folha artificial”, afirmou.

A solução desse desafio, no entanto, pode não estar tão distante quanto parece. Para Barber, a vantagem é que a química envolvida com a fotossíntese já foi desenvolvida, testada e aprovada pela natureza.

“Conforme queimamos combustíveis fósseis, jogamos dióxido de carbono na atmosfera e isso é ruim para nós. Mas não e ruim para as plantas. Elas gostam de dióxido de carbono. Tanto que usamos o enriquecimento por CO2 em estufas. Então, trata-se de uma química que já existe. As plantas capturam o dióxido de carbono e o convertem novamente em combustível, em moléculas orgânicas”, disse.

A folha artificial, segundo Barber, usará energia da luz para tirar oxigênio da água. Em seguida, o oxigênio servirá para converter o dióxido de carbono novamente em um composto rico em carbono. “Mas, para conseguir isso, teremos que desenvolver a catálise química. É preciso ter uma concepção robusta, usando materiais baratos e funcionando de maneira eficiente, que permita competir com os combustíveis fósseis”, afirmou.

Única alternativa

O pesquisador britânico comparou o desafio do desenvolvimento da folha artificial ao desafio da aviação. “Leonardo da Vinci observou pássaros voando e sabia que o voo era fisicamente possível”, disse.

“Ele tentou desenhar máquinas voadoras. Se olharmos os rascunhos, veremos que ele tentou, sem sucesso, mimetizar o voo de uma ave. No fim, conseguimos voar. Era possível. Há milhões de pessoas voando todos os anos em veículos construídos pelo homem, mas de uma maneira que Da Vinci jamais poderia imaginar”, disse.

Assim como os aviões voam de maneira completamente diferente das aves – embora elas tenham sido a primeira inspiração para os inventores –, as folhas artificiais, segundo Barber, provavelmente não terão semelhança com as folhas das árvores.

“Não é preciso que se pareça com uma folha. Será uma tecnologia muito diferente da fotossíntese feita por elas. A forma como alcançaremos essa tecnologia poderá ser muito diferente da maneira encontrada pela natureza”, apontou.

Para o cientista do Imperial College London, a folha artificial não foi desenvolvida até agora porque só recentemente se acelerou o avanço do conhecimento a respeito da fotossíntese. Os cientistas não sabiam, por exemplo, como ocorria a quebra da água no processo.

“Hoje existe muito mais informação sobre os processos naturais. Os químicos estão trabalhando na construção de catalisadores artificiais e estão muito mais confiantes para começar a sintetizar”, disse.

“Estamos no caminho do desenvolvimento dessa catálise. Mas, até agora, não tínhamos muitos trabalhos feitos sobre o tema, em nível global. Outro fator limitante é que os combustíveis fósseis dominam. E não houve ênfase em tentar desenvolver outras tecnologias inovadoras para o futuro. O motivo é simples: os combustíveis fósseis são baratos”, afirmou.

Para Barber, o desenvolvimento da folha artificial seria a principal solução global para o problema energético. “Não consigo ver nenhuma outra alternativa a longo prazo. A curto prazo, provavelmente continuaremos queimando petróleo, carvão e gás. E rezar para que nada mais dramático aconteça com o clima. A médio prazo, deveremos usar biocombustíveis, mas nem todos os países poderão se valer dessas tecnologias”, disse.

Segundo o cientista, a folha artificial é provavelmente mais viável, como solução global, do que as tecnologias limpas com uso de fusão nuclear. “Isso é algo difícil demais para se fazer. Não dá para comparar com a viabilidade da folha artificial, cuja tecnologia já existe”, ressaltou.

“Posso produzir uma amanhã mesmo, usando um aparelho de produção de energia fotovoltaica, combinado com eletrodos de platina, alimentando o equipamento com energia solar, fazendo oxigênio e hidrogênio. Não é um sonho. É uma questão de otimização e de barateamento de produção”, afirmou.

FONTE: FAPESP

http://www.agencia.fapesp.br/materia/12958/folhas-artificiais.htm

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ONU critica acesso desigual à água que prejudica pobres e refugiados

15/09/2010 – 14h31

DA EFE

A relatora especial para o direito à água e ao saneamento da ONU, Catarina de Albuquerque, criticou nesta quarta-feira (que sempre são as mesmas pessoas –“pobres, refugiados, imigrantes”– aquelas que não têm acesso à água.

Empresas começam a pagar para uso de água do rio

“Sempre são as mesmas pessoas que têm mais problemas”, reprovou Alburquerque, para quem o problema deriva invariavelmente da “falta de vontade política dos Estados”.

Há 1 bilhão de pessoas mundo que não têm acesso à fonte de água, diz relatora para o direito à água e ao saneamento da ONU

Em sua opinião, os problemas econômicos não são desculpa para isso. “Se o país não tem dinheiro, mas estabelece o abastecimento de água como máxima prioridade, poderá obter ajuda a respeito procedente do exterior”, destacou a advogada portuguesa, que apresentou em Genebra seu relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

A relatora informou que existem 1 bilhão de pessoas no mundo que não dispõem de acesso a uma fonte de água e 3 bilhões que não têm acesso a água de alta qualidade.

“A responsabilidade em matéria de direitos humanos é do Estado”, ressaltou. Segundo ela, mesmo quando o abastecimento de água e saneamento corre a cargo da iniciativa privada, a empresa “também adquire certa responsabilidade sobre os direitos humanos”.

“O governo é que deve legislar, garantir que o fornecedor faça uma gestão adequada”, assinalou Alburquerque. Ela criticou que muitas vezes os elevados preços do abastecimento impedem um acesso igualitário à água.

Embora os países “façam progressos”, “sempre são os pobres, os refugiados, os imigrantes e os imigrantes ilegais” que têm mais dificuldades para o acesso à água, que foi decretado pela Assembleia Geral da ONU em julho passado um direito humano.

“Todas as pessoas, sem discriminação, devem ter acesso à água potável e ao saneamento”, estipula a resolução do órgão.

FONTE: folha.com

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/799191-onu-critica-acesso-desigual-a-agua-que-prejudica-pobres-e-refugiados.shtml

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Cidades já consomem 70% dos recursos naturais do planeta

Relatório inédito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apresentado em Curitiba, nesta quinta-feira,  revela que serviços ambientais podem economizar tempo e dinheiro para as economia dos estados e municípios.

09/09/2010

Paulenir Constâncio

Dados da Organização das Nações Unidas constatam que mais da metade da população mundial está nas cidades e já é responsável pelo consumo de 70% de todos os recursos que o homem retira da natureza. Até 2050, com a estimativa de que a população do planeta supere 9,2 bilhões, a Terra terá 6 bilhões de habitantes, quase 90% da população atual, vivendo no espaço urbano. Diante desses números, governos estaduais, prefeituras e comunidades precisam reconhecer o valor do capital natural (água, solo, biodiversidade). Os formuladores de políticas públicas têm razões de sobra para tentar encontrar, o mais rápido possível, soluções de combate à degradação dos ecossistemas e minimização da perda da biodiversidade.

O alerta está no relatório “A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para Políticas Locais e Regionais (TEEB, sigla em inglês)”, lançado no Brasil, em workshop realizado nesta quinta-feira (09/09) em Curitiba (PR) e simultaneamente na Bélgica, Índia, Japão e na África do Sul. Nele, 140 especialistas das áreas de ciência, economia e política de mais de 40 países concluíram que os serviços ambientais podem impulsionar as economias locais, gerar milhões de novos empregos e melhorar a qualidade de vida nas cidades.

Segundo o diretor do Departamento de Biodiversidade do MMA, Bráulio Dias, que representou a ministra Izabella Teixeira no encontro, o relatório “é importante para que os gestores públicos reconheçam o valor econômico da biodiversidade”. Par ele, o documento pode ajudar na solução do impasse entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico. “Mostra (o TEEB) que os serviços ambientais têm o papel de reduzir os impactos ecológicos do desenvolvimento.”

O documento reconhece e recorre a dados e exemplos para demonstrar que ecologia e economia não só podem, como devem, caminhar juntas nas políticas públicas. O relatório levanta, principalmente, a questão de valoração e impacto do uso e preservação dos recursos naturais. Os atuais níveis da pegada ecológica e social do homem, nome que os especialistas dão aos recursos naturais necessários para que cada ser humano viva, devem ser incluídos nas contas de planejamento das economias locais. Bráulio cita como exemplos recentes enchentes e desmoronamentos no Brasil com prejuízos econômicos elevados, e bem superiores ao que seria gasto com medidas de preservação do meio ambiente.

O relatório chama a atenção em três aspectos para as quais as políticas públicas precisam estar voltadas: a distribuição dos benefícios da natureza, o uso do conhecimento científico disponível e o engajamento dos gestores e das comunidades envolvidas nas ações de preservação. O relatório estuda, ainda, áreas protegidas e o aumento dos benefícios locais da conservação, e dá orientações sobre os incentivos de recompensa da boa administração de capital natural local, tais como sistemas de pagamento localmente adaptados por serviços ambientais, certificação e rotulagem.

Esse é o primeiro de uma série de cinco relatórios, que serão levados à Convenção da Biodiversidade (COP-10) em Nagoya, no Japão. Ele contribui também para o Atlas Ambiental online da Agência Europeia de Meio Ambiente, com estudos de vários esforços que já vêm sendo feitos para associar ecossistemas e a biodiversidade nas iniciativas de políticas locais. Segundo Achim Steiner, diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, um dos organismos que realizam o workshop, alguns governos locais já acordaram para o problema da preservação ambiental e têm adotado as medidas necessárias, com ganhos para suas economias locais. “Mas muitos ainda precisam aderir”, acredita.
Saiba mais: http://www.teebweb.org

FONTE: Ministério do Meio Ambiente

http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=ascom.noticiaMMA&codigo=6132

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CINEMA COMENTADO ORGANIZADO PELO GEDIMA

Nesta terça-feira dia 14 de setembro de 2010, o Grupo de Estudos em Direito Internacional do Meio AmbienteGEDIMA (https://gedima.wordpress.com/) apresenta TERRAS, documentário filmado na Amazônia, sobre as delimitações territoriais na fronteira tríplice entre Brasil, Bolívia e Colômbia, da diretora carioca Maya Da-Rin.

Não percam!

O curta revela como as questões ambientais, sociais, econômicas da região amazônica se entrecruzam aos costumes regionais, divagações políticas, mitos perdidos e experiências comuns.

Bate-papo com a cineasta Maya Da-Rin após a exibição do filme.

LOCAL:
PUC Minas Coração Eucarístico
Av. Dom José Gaspar, 500 – Coração Eucarístico – Belo Horizonte – MG
Auditório1, Prédio 4
HORÁRIO:
16 horas
ENTRADA FRANCA!

Mais informações:
http://cinegedima.blogspot. com/
Telefone Geral PUC Minas: (31) 3319-4444
(31) 99709077
(31) 88072574

Realização:

GEDIMA – Grupo de Estudos em Direito Internacional do Meio Ambiente

Apoio:

HUMANIZE-INSTITUTO

Mercado Mineral

PUC Minas

Organização:

Dra. Denise de Castro Pereira

M.Sc. Elisabeth Parreiras

M.Sc. Alessandra Mahé da Costa Rodrigues

Carine Rocha da Veiga

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O GEDIMA e a V Semana Nacional de Direitos Humanos: Iguais na Diferença

A conduta de cada um de nós reflete em toda sociedade. Os hábitos fazem parte das culturas em que os valores são apreendidos e passados para as gerações futuras, formando a nossa identidade social responsável pela visão de mundo que temos. A consciência ambiental faz parte do processo de educação das pessoas onde aprendemos ser fundamental a proteção e o respeito ao meio ambiente em que vivemos.

Somos responsáveis por manter a harmonia ecológica, através da utilização sustentável dos recursos naturais que nos permitem desenvolver tecnologias, produtos, medicamentos, lazer e principalmente o nosso sustento. Apropriamos-nos do meio ambiente para nos manter saudáveis, mas por que não podemos torná-lo mais saudável? Evitando desperdícios, queimadas, e diversos outros danos cujas soluções estão ao nosso alcance de maneira rápida e prática?

Pensando nisso o GEDIMA (grupo de estudos em direito internacional do meio ambiente) junto à PUC-MINAS e a Prefeitura de Belo Horizonte, inicia mais uma jornada rumo à educação ambiental e junto às atividades da “V Semana de Direitos Humanos: Iguais na diferença”. Que acontecerá em Belo Horizonte nos dias 7 a 12 de dezembro de 2010. Este evento é “promovido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com os governos estadual e municipal, demais instituições públicas e organizações não governamentais, com o objetivo de proporcionar a reflexão em torno das temáticas relacionadas aos direitos humanos, no contexto das comemorações do 62º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.”

As atividades a serem desenvolvidas durante a V Semana Nacional de Direitos Humanos são de escolha dos participantes dentro das categorias de: conferências, seminários, atividades artístico-culturais, oficinas, atividades esportivas, ações de mobilização “e outras ações de formação, voltadas direta ou indiretamente para temas relacionados aos Direitos Humanos.” (EDITAL DE CHAMAMENTO PÚBLICO SEDESE/N º 01/2010 e SMPS /N º 003/2010 DE 21 DE MAIO DE 2010).

Esse evento possui abrangência nacional e será sediado pela primeira vez em Belo Horizonte, contanto com a participação dos cidadãos para conhecer e interagir com os nossos Direitos Humanos que devem ser respeitados no dia a dia.

O GEDIMA participou do Edital de seleção como representante de entidade de ensino privado. Teve o projeto selecionado em que o foco é a interação junto às crianças para a conscientização da reciclagem na nossa cidade, pois a garantia dos direitos humanos, tal como o direito à vida, saúde, a informação e a educação possuem relação direta junto ao equilíbrio e proteção do meio ambiente.

O GEDIMA realizará uma oficina a reciclagem de materiais como papel, vidros, metal, plástico, e sobre a reutilização do óleo de cozinha, que pode se transformar em produtos de limpeza e combustível. Os postos de coleta seletiva em BH desses materiais e os de uso eletrônicos, como pilhas e baterias de celular também serão vistos.

A educação infantil é a base para o desenvolvimento dos nossos valores e, principalmente, para a mudança de práticas que ferem nosso meio ambiente. Portanto, a nossa proposta é educar para mudar, pois reciclando nossos hábitos podemos ter um mundo mais saudável.

Mayra Thaís Silva Andrade

Thaís de Medeiros Moreira

pesquisadoras do GEDIMA

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Paulo Brando: Florestas densas são mais resistentes a secas sazonais

Maura Campanili

Recente pesquisa realizada na Amazônia constatou que houve diminuição da precipitação durante a estação chuvosa, enquanto a disponibilidade de luz na estação seca aumentou, com importantes consequências para a ciclagem de carbono na região. De acordo com o estudo, que reuniu cientistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), da Universidade da Flórida (UF) e do Woods Hole Research Center (EUA), a capacidade das florestas da Amazônia de ciclar carbono durante períodos de estiagem foi maior onde a cobertura vegetal era mais densa. Principal autor do trabalho, Paulo Brando, coordenador do projeto Savanização do IPAM, avalia que, devido ao processo de degradação florestal na Amazônia e as previsões de um clima mais seco em algumas partes da Bacia Amazônica, é necessário uma melhor integração de dados de campo e estudos de sensoriamento remoto para que se possa realmente entender como secas previstas num futuro próximo afetarão essas florestas.

Clima e Floresta – O que é a produtividade da floresta e a ciclagem de carbono?

Paulo Brando – A produtividade da floresta é a capacidade de árvores, cipós e outras plantas de assimilar carbono através do processo de fotossíntese. Normalmente, quando falamos em produtividade de florestas, fazemos uma distinção entre produtividade bruta e líquida. A produtividade bruta representa o total de carbono assimilado pelas plantas, enquanto a produtividade líquida representa a quantidade de carbono fixada pela planta. Ou seja, a produtividade líquida é calculada com base na produtividade bruta menos o carbono liberado pelas plantas durante a respiração, o que a floresta realmente armazenou de carbono.

Clima e Floresta – Como essa produtividade varia na Amazônia?

Brando – Apesar de muitas vezes enxergarmos a Amazônia como um tapete verde uniforme, há diversos tipos de vegetação na região, um resultado de milhares de anos de evolução. Assim, a produtividade das florestas da Amazônia varia bastante de uma região para outra – assim como ao longo do tempo. Os principais fatores que influenciam a produtividade das florestas da Amazônia são características do solo, variações de clima, composição de espécies e frequência de distúrbios. Por exemplo, durante um ano muito seco é comum se observar uma diminuição no crescimento e um aumento na mortalidade de árvores. Em outras palavras, em anos muito secos, normalmente as florestas da Amazônia sofrem e reduzem a sua capacidade de ciclar e armazenar carbono (ex. menor produtividade líquida), principalmente quando o fogo ocorre.

Clima e Floresta – Quais são as consequências práticas para a floresta dessa diminuição das chuvas na estação chuvosa e maior disponibilidade de luz na estação seca na Amazônia?

Brando – O estudo mostrou que florestas relativamente intocadas são mais tolerantes à seca sazonal do que aquelas altamente degradadas. Porém, mesmo com maior capacidade de tolerar as secas, há um limite suportável além do qual a produtividade da floresta intacta se reduz. Também verificamos que as respostas das florestas da Amazônia à seca envolvem processos bastante complexos que podem afetar as conclusões sobre a vulnerabilidade dessas florestas às mudanças climáticas.

Clima e Floresta – Como foi realizada a pesquisa?

Brando – O estudo utilizou análises de campo e dados obtidos por sensoriamento remoto, incluindo dados de índices de vegetação (EVI) das estações secas de 2000 a 2008, do satélite MODIS. Foram combinados dados climáticos de 1996 a 2005 registrados em 280 estações meteorológicas. Relações estatísticas entre os índices de vegetação e outras variáveis também foram analisadas para toda a Bacia Amazônica e, mais intensamente, a Bacia do rio Tapajós.

Clima e Floresta – Por que é importante estudar esses fenômenos? O que eles têm a dizer sobre a saúde e sobrevivência da floresta e sobre as mudanças climáticas?

Brando – Como dissemos, a produtividade de florestas da Amazônia está relacionada à capacidade do ecossistema em ciclar carbono. Discutimos também que a produtividade de florestas varia de acordo com oscilações climáticas. Assim, ao estudarmos variações da produtividade florestal em função do clima, estamos dando um passo importante para entender como florestas tropicais poderão responder a mudanças climáticas.

Clima e Floresta – Como as secas poderão afetar as florestas no futuro?

Brando – Atualmente, vários modelos climáticos preveem um aumento de temperatura e uma diminuição na precipitação em partes da Amazônia. Como resultado, pode haver uma redução na cobertura vegetal e na quantidade de carbono armazenado nessas florestas. Visto que quase 40% das chuvas na Amazônia são dependentes das próprias florestas, qualquer alteração na saúde das florestas irá influenciar os padrões de chuva na região e vice-versa. Apesar de algumas previsões serem bastante sombrias, com substituição de florestas por uma vegetação empobrecida, mais parecida como uma savana, ainda há muita incerteza sobre os limiares em mudanças climáticas que causariam substituição de florestas Amazônicas por outros tipos de vegetação. E é por isso que o nosso grupo, liderado pelo Dr. Daniel Nepstad, tem realizado grandes experimentos na região. Os nossos últimos resultados mostram que grandes áreas da Amazônia poderão ser afetadas por secas num futuro próximo. Além disso, grandes áreas poderão se tornar vulneráveis ao fogo. Essa combinação de seca e fogo, além do próprio desmatamento, pode ter sérias consequências para a saúde das florestas da Amazônia. No entanto, há várias soluções que podem ser tomadas para se diminuir os efeitos de seca e fogo na Amazônia

FONTE: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

http://www.ipam.org.br/revista/Paulo-Brando-Florestas-densas-sao-mais-resistentes-a-secas-sazonais/219

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Pouco podemos esperar com relação a decisões políticas sobre metas de redução de emissões no encontro de negociações climáticas em Cancun

Laura Antoniazzi* 

A reunião da Convenção da ONU para Mudança do Clima (UNFCCC), ocorrida na primeira semana de agosto em Bonn, Alemanha, marca o meio do caminho entre as Conferências das Partes (CoPs) de Copenhague e Cancun. Apesar da sensação de fracasso após Copenhague, os avanços técnicos dos grupos de trabalho do Protocolo de Kyoto em Bonn podem representar um novo fôlego para as negociações e expressam a vontade de que o Protocolo seja renovado, principalmente por parte dos países em desenvolvimento. 

 
As reuniões preparatórias de negociação têm o objetivo de criar convergências de conceitos técnicos e avançar em pontos centrais para facilitar e agilizar a tomada de decisão política que acontece nas CoPs. E, em Bonn, novas perspectivas se abriram aos chefes de governo para a CoP 16, no México, com base nas reuniões realizadas nos dois trilhos de negociação da Convenção – Protocolo de Kyoto e Compromissos de Longo Prazo (LCA).
 
No trilho do Protocolo de Kyoto, alguns países em desenvolvimento bancaram a proposta de incorporar nas definições de compromissos de redução – além da responsabilidade histórica – as Emissões per capita, o que obviamente daria folga para as Emissões de países superpopulosos como China e Índia. Essa mudança de foco da geografia para a demografia na definição de critérios em uma negociação multilateral representaria uma equidade ainda maior do que o princípio da ONU de igualdade entre países. Podemos esperar que essa proposta ganhe força entre os emergentes, no entanto, encontrará grande resistência entre países desenvolvidos e também entre países em desenvolvimento menos populosos.
 
Outro ponto importante debatido no Grupo de Trabalho do Protocolo de Kyoto – e que avançou na reunião de Bonn – foi a participação das atividades de Uso e Mudança do Uso da Terra e Florestas (LULUCF). Estão sendo estabelecidos critérios para a contabilização de Emissões e remoções de Florestas plantadas para uso comercial e definições de linhas de referência para estoques de carbono. Os avanços nessas questões significam que o texto de negociação está conciso e com poucas divergências, tecnicamente bem encaminhado para a decisão dos líderes políticos.
 
O Protocolo de Kyoto definiu metas de redução de gases de efeito estufa (GEE) para os países desenvolvidos – chamados de Países do Anexo I – para o período entre 2008 e 2012. Agora, o grupo de trabalho discute como será a segunda fase de compromissos, que seria de 2013 a 2017, e duas principais questões travam essa definição.
 
A primeira é que os Estados Unidos não ratificaram o Protocolo de Kyoto e, assim, os demais países desenvolvidos percebem que estão em desvantagem e até arrependidos por terem aderido. Enquanto os Estados Unidos não se movimentarem, dificilmente uma solução consensual será alcançada na CoP. Acompanhar o desenvolvimento da legislação climática por lá é algo fundamental.
 
O segundo nó refere-se à participação dos países emergentes nos esforços de mitigação das Emissões, pois cada vez mais China, Índia e Brasil estão no centro das decisões econômicas e políticas mundiais – e igualando a responsabilidade de emissão de GEE. Esses países, por sua vez, argumentam que é preciso considerar a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos no total das Emissões e que ainda precisam continuar emitindo de forma crescente nos próximos anos a fim de obterem o mesmo nível de desenvolvimento para sua população.
 
Em meio a esse caloroso debate, o que se tem de concreto é que mesmo as metas apresentadas pelos países desenvolvidos e os compromissos declarados pelos países em desenvolvimento anexados ao Acordo de Copenhague não são suficientes para assegurar um aumento máximo da temperatura de 2º C, conforme estabelecido no texto do próprio Acordo.
 
Segundo estimativas de especialistas apresentadas durante workshop na reunião de Bonn, as metas e compromissos dispostos na mesa de negociação atualmente levariam a um aumento de temperatura de cerca de 3,5º C. Uma importante questão envolvida nas definições de metas é o limite para uso de mecanismos de flexibilização, que são mecanismos associados a mercados que diminuem os custos para se atingir as reduções, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
 
Enquanto o grupo do Protocolo busca definir novas regras e metas de redução de GEE para o segundo período de compromissos – com as questões técnicas já relativamente bem definidas – o grupo de Compromissos de Longo Prazo (LCA) abrange questões mais sistêmicas e ainda pouco palpáveis, como mitigação, adaptação, financiamento, transferência de tecnologia e capacitação. O LCA pretende criar objetivos ambiciosos para o futuro e incluir novos temas e ferramentas para lidar com a mudança do Clima e, por ensejar temas muito conceituais e novos, não caminha com a mesma fluidez que o Protocolo de Kyoto. E o ideal, claro, seria que os dois grupos de trabalho avançassem juntos.
 
Ao que tudo indica, pouco podemos esperar com relação a decisões políticas sobre metas ou outros objetivos concretos de redução de Emissões em Cancun. No entanto, os negociadores estão se esforçando para apresentar soluções em outros temas, como abordagens setoriais e financiamento para adaptação – até mesmo para atender às grandes expectativas e comoções que o tema vem ganhando na agenda internacional.
 
Bonn foi a segunda reunião preparatória de 2010, sendo que uma última ocorrerá na China, em outubro, antes da CoP do México, em dezembro. As negociações internacionais de Clima são o principal fórum de debate sobre desenvolvimento sustentável da atualidade e seus desdobramentos são sentidos nas mais diversas áreas, desde política industrial e conservação da Biodiversidade até ajuda internacional para países pobres. Assim, o acompanhamento de tal negociação é imprescindível a todos aqueles que trabalham por um mundo mais justo, limpo e próspero.  

 

FONTE: VALOR ECONÔMICO – Quarta-Feira, 25 de agosto de 2010 – Página A 11

* Laura Antoniazzi é pesquisadora do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ICONE). e.mail: lantoniazzi@iconebrasil.org.br .

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GEDIMA consegue o projeto da Prefeitura de Belo Horizonte e vai participar da V SEMANA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS!!!

Aguardem mais informações.

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Queimadas no País crescem 85% em relação a 2009

14 de agosto de 2010 | 7h 09

ANDREA VIALLI – Agência Estado

O número de focos de queimada em todo o Brasil, acumulado desde o dia 1.º de janeiro até ontem, cresceu 85% em comparação ao mesmo período de 2009. O satélite NOAA-15, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), identificou 25.999 focos de incêndio quando de janeiro a agosto de 2009 haviam sido registrados 14.019 focos.

O prolongado período de estiagem, o hábito das queimadas em áreas agrícolas e as dificuldades de logística para conter o fogo agravam o problema de norte a sul do País. De acordo com o relatório do Inpe, é primeira vez, desde 2007, que se registra crescimento no número de focos.

Entre os Estados com mais queimadas estão Mato Grosso, com 6.693 focos; Tocantins, com 4.210; Pará, com 2.526, e Bahia, com 2.020. As maiores variações foram encontradas no Tocantins (aumento de 407%), no Piauí (365%) e no Distrito Federal (250%).

“Seguramente a questão climática tem forte peso. Este ano o período de estiagem está mais longo. A mudança no padrão meteorológico é real”, diz Bóris Alexandre César, diretor de operações da Fundação Florestal, ligada à Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo. Segundo ele, há dez anos a estação seca durava de julho ao início de setembro. Hoje, a expectativa dos climatologistas é que dure até outubro.

Fonte: estadao.com.br

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Areia das praias de cidades brasileiras pode desaparecer, diz especialista

Para geólogo, os maiores vilões são o aquecimento global e as ações nocivas ao meio ambiente

16 de agosto de 2010 | 19h 48

Agência Brasil

RIO DE JANEIRO – A escassez progressiva da areia pode fazer com que algumas praias do litoral brasileiro desapareçam do mapa, principalmente nas cidades. A afirmação é do geólogo e geógrafo Dieter Muehe, para quem os maiores vilões desse fenômeno são o aquecimento global e as ações nocivas do homem ao meio ambiente.

Em entrevista à Agência Brasil, Muehe explicou que as mudanças climáticas estão provocando elevações do nível do mar e tempestades em ritmo acelerado, tornando vulneráveis as faixas de areia de muitas praias do País.

“As regiões urbanas são as que correm mais risco, pois geralmente a perda de areia não é reposta naturalmente e a orla sofre maior erosão. Isso já ocorre em várias praias do Rio de Janeiro, como Piratininga, Ipanema e Cabo Frio”, cita o geólogo.

O estudo foi apresentado na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 25 a 30 de julho, em Natal.

Embora preocupante, a situação pode ser revertida, explicou Muehe. “As areias retiradas precisam ser repostas por meio de dragagens com areias idênticas às da praia ou mais grossas”, explica.

Outra solução, segundo o especialista, é a exploração de depósitos arenosos na zona submarina, embora seja uma alternativa cara, por já serem usadas pela construção civil ou por causa da proibição de sua exploração por questões ambientais.

Ele alertou que é fundamental investir em estudos sobre as fontes de sedimentos, com depósito de areia adequado, “além de saber como tirá-la para não afetar a biologia da área”.

Muehe repete o ditado de que é melhor prevenir do que remediar. “O certo seria adotar faixas de não-edificação, conforme previsto por lei, que variam de 50 a 200 metros, e assim teremos um espaço de ajustamento da linha da costa”, acredita.

O pesquisador lamentou que esse procedimento seja praticamente impossível em áreas urbanizadas. “No Leblon e em Copacabana, por exemplo, não tem jeito. Nesse caso, compensa o investimento na manutenção da praia de forma artificial. Há lugares do mundo em que se repõe areia a cada ano, o que precisa ser intensificado e coordenado de forma mais eficiente”, avalia o geólogo.

FONTE: estadao.com.br

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